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A apropriação indígena do turismo: os Pataxó de Coroa Vermelha e a expressão da tradição
Coleções e subcoleções temáticas
História indígena e do indigenismo no Sul e Extremo Sul da Bahia > Territórios da retomada Pataxó
Espécie e tipo de documento textual
Trabalho acadêmico
Autoria
Título
A apropriação indígena do turismo: os Pataxó de Coroa Vermelha e a expressão da tradição
Data
2012
Período ou ano do documento
Século 21 > Década 2010 > 2012
Instituição produtora e/ou órgão responsável
Tipo de trabalho acadêmico
Povo(s), etnia(s) e/ou grupo(s) social(is) referido(s) no documento
Localidade(s) referida(s) no documento
Palavras-chave
Apropriação | Artesanato | Economia | Pataxó | Bahia > Santa Cruz Cabrália > Terra Indígena Coroa Vermelha | Turismo
Resumo
A aldeia de Coroa Vermelha teve como razão fundamental para a sua ocupação pelos Pataxó meridionais funcionar como entreposto para a prática comercial com a sociedade regional e, particularmente, com os turistas, sobretudo relativamente à venda do artesanato Pataxó. Caracterizando-se, assim, como detentora de uma forte vocação turística, a aldeia, localizada entre os municípios de Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro, se consolidou em estreita relação com o desenvolvimento da atividade artesanal. Assim, os Pataxó de Coroa Vermelha, bem como a aldeia foram sendo crescentemente consagrados, tanto pela teoria acadêmica quanto pelas representações da sociedade regional, como baseando sua organização social e modo de vida na atividade turística. O objeto desta tese que, sob diversos aspectos, se pode considerar como oposto a tal representação, é o processo de apropriação do turismo pelos Pataxó. Apropriação é utilizado no sentido estrito do termo, isto é, como o processo de tornar próprio o objeto pertencente ou produzido por outrem, e a tese se interroga sobre as matrizes de tal processo no caso Pataxó. Dessa forma, a análise visa a compreender, em primeiro lugar, em qual contexto econômico se encontra inserida a atividade turística, quais outras atividades são praticadas pelos Pataxó e qual a importância do turismo entre essas. Em um segundo momento, compreender aspectos da organização social considerados essenciais à atividade turística, tais como as relações de parentesco e de territorialidade. Por fim, a análise se dirige para a operação da atividade turística per si, envolvendo no processo a afirmação da indianidade Pataxó através, entre outras coisas, da tentativa de demonstração dos diacríticos considerados pelos Pataxó, e por seus interlocutores, como marcadores da identidade étnica, no campo turístico. A atividade turística é compreendida como tendo sido acionada pelo sistema social Pataxó a partir das condicionantes impostas por esse mesmo sistema, antes que pelos ditames do mercado turístico, nacional ou internacional. Por essa mesma razão é que a prática da recepção turística, pelos Pataxó, é retratada como um exercício da tradição, um verdadeiro laboratório em que, no âmbito de um processo de reestruturação da tradição e modo de vida indígenas em Coroa Vermelha, os diversos traços pertencentes ao acervo cultural Pataxó são testados, na relação com os turistas, uma vez que esses são considerados os contrapontos ideais para a construção contrastiva da identidade étnica Pataxó. O turismo funciona, assim, de maneira singular, colaborando para a formação de um discurso sobre a indianidade Pataxó, e, portanto, de afirmação étnica, bem como instrumento de subsistência baseado numa visão indígena de tradicionalidade que rejeita as amarras identificadas nas atividades corriqueiras praticadas por membros da sociedade regional. A compreensão do contexto colabora para a construção de outras vias de análise, tanto da atividade turística em si, e dos seus contornos singulares entre os Pataxó, quanto dos próprios índios, ressaltados novos aspectos de sua já conhecida capacidade de ressemantizar os objetos oriundos da sociedade nacional, emulando-os ao mesmo tempo em que os refazendo para funcionarem segundo seus próprios objetivos e sua própria lógica.