Documento
Coleções e subcoleções temáticas
História indígena e do indigenismo no Sul e Extremo Sul da Bahia > Territórios da retomada Pataxó
Gênero do documento
Textual
Espécie e tipo de documento textual
Trabalho acadêmico
Autoria
Título
Tecendo o viver sossegado: as artes de rexistência da Reserva Pataxó da Jaqueira
Local de produção
Data
2020
Período ou ano do documento
Século 21 > Década 2020 > 2020
Instituição produtora e/ou órgão responsável
Universidade Federal do Sul da Bahia > Programa de Pós-Graduação em Estado e Sociedade
Tipo de trabalho acadêmico
Povo(s), etnia(s) e/ou grupo(s) social(is) referido(s) no documento
Localidade(s) referida(s) no documento
Palavras-chave
afirmação cultural | Autonomia | Turismo > Entoturismo | arte indígena > Pataxó
Referência e/ou procedência do documento
Repositório de Teses e Dissetações do Programa de Pós-Graduação em Estado e Sociedade, do Centro de Formação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Sul da Bahia (PPGES/CFCHS/UFSB)
https://sig.ufsb.edu.br/sigaa/public/programa/defesas.jsf?lc=pt_BR&id=225
Resumo
Esta pesquisa de abordagem etnográfica apresenta uma coleção de narrativas que atravessam as práticas cotidianas sociais e artefatuais que conformam o Viver Sossegado, o modo de viver do povo Pataxó, especificamente na comunidade artesã da Reserva da Jaqueira localizada na Terra Indígena Pataxó de Coroa Vermelha, Porto Seguro - Bahia. Como práticas sociais, temos a autogestão da comunidade, o trabalho coletivo para a produção de artesanato e a prática do etnoturismo, as celebrações, a educação das crianças etc. E são práticas artefatuais, tecer tucum, trabalhar o barro, esculpir madeira e coco, pintar grafismos, trançar miçangas e arte plumária. Observou-se que, muito além de mero souvenir turístico, o artesanato é uma forma de arte de rexistência. Ou seja, além de constituir a principal fonte de renda da comunidade, o artesanato é um instrumento de resistência política no contexto turístico, quando se torna etnomercadoria usada para contar histórias contra-hegemônicas e promover a cultura indígena; e, ao mesmo tempo, adereços e grafismos corporais fortalecem seus usuários em suas lutas e reafirmam visualmente a existência da etnia perante as demais e diante da sociedade envolvente. Verificouse, ainda, que a fabricação do artesanato promove autonomia e a autoestima dos artistas Pataxó quando aliada à atividade etnoturística autogestionada, a partir da integração da comunidade para o trabalho coletivo, além de atuar como uma espécie de celeiro onde os artistas têm a oportunidade de desenvolver suas potencialidades e são incentivados a explorar sua criatividade, seja praticando as técnicas artefatuais tradicionais que aprendem na aldeia desde a infância e a juventude, seja na apropriação de novas técnicas. Participei desse convívio a partir do convite para ensinar o macramé na aldeia da Jaqueira. A apropriação da nova técnica tem viabilizado a criação de novos adereços com materiais tradicionalmente utilizados e o trançado dos grafismos tradicionais Pataxó. O etnoturismo é uma via para a contracolonização do território da chamada Costa do Descobrimento e para a autonomia do povo Pataxó. Nesse sentido, a retomada das técnicas artefatuais Pataxó ancestrais, na atualidade, conforma parte de
um conjunto de estratégias de retomada do Viver Sossegado na Reserva da Jaqueira, movimento no qual a arte indígena é enaltecida e empregada como um dos vetores fundamentais na construção de um novo regime de memória e alteridades. O princípio basilar do viver sossegado é a luta por terra para se viver bem. É, portanto, autonomia; é o convívio e o trabalho em comunidade; é a preservação da mata; é fazer artesanato; é educar nas tradições e na cultura dos ancestrais, que seguem mais fortalecidas a cada nova geração. O direito de viver sossegado é, nesse sentido, um devir refletido na luta por direitos, que começa pela retomada de territórios tradicionais - condição fundamental para a conquista da
utodeterminação dos povos originários da América Latina.