Documento
Coleções e subcoleções temáticas
História indígena e do indigenismo no Sul e Extremo Sul da Bahia > Territórios da retomada Pataxó
Gênero do documento
Textual
Espécie e tipo de documento textual
Trabalho acadêmico
Autoria
Título
Sentidos e usos do tempo em narrativas Pataxó de Comexatibá: entre imagens-vestígios e imagens-sinais, a "luta de índio"
Local de produção
Instituição produtora e/ou órgão responsável
Universidade Federal do Sul da Bahia > Programa de Pós-Graduação em Estado e Sociedade
Tipo de trabalho acadêmico
Povo(s), etnia(s) e/ou grupo(s) social(is) referido(s) no documento
Localidade(s) referida(s) no documento
Prado > Cumuruxatiba > Terra Indígena Comexatibá (Cahy-Pequi)
Palavras-chave
Etnografia | memória | narrativas | narrativas > Temporalidade | Bahia > Prado > Terra Indígena Comexatibá (Cahy-Pequi)
Referência e/ou procedência do documento
Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB
https://sig.ufsb.edu.br/sigaa/public/programa/defesas.jsf?lc=pt_BR&id=225
Resumo
O trabalho de tese ora apresentado tem os Pataxó da Terra Indígena (TI) Comexatibá, localizada no município de Prado (BA), como interlocutores e colaboradores. Embora a presença desse povo na região tenha sido amplamente descrita já no início do século XIX pelo viajante Maxi- miliano Maximiliano Wied-Neuwied, durante viagens que realizou entre 1815 e 1817, a luta pela retomada do território efetivamente só teve início a partir de 2000, no momento das come- morações oficiais dos 500 anos de Brasil. O reconhecimento só veio 15 anos depois, com a publicação do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID) em 27 de julho de 2015. Tendo como corpus central, especialmente as histórias de vida de mulheres pataxó, a pesquisa não pretendeu de forma alguma desvendar ordens de funcionamento de suas comuni- dades, nem encontrar estruturas fixas agindo por trás de cada pequeno gesto mostrado por elas, antes historicizá-las como ações de sujeitos individuais e coletivos, como fatos sociais inseridos em espaços e tempos mais ou menos delimitados, sem fugir do que há de conflituoso, proble- mático e contraditório nelas. Essa tarefa estará ancorada em uma breve reflexão sobre memória, a partir de Aleida Assmann (2011), Joel Candau (2005, 2018), Maurice Halbawacks (2003) e Pollack (1989) em que esta será tratada como construção individual e coletiva, como terreno de disputas fundamentais na luta pelo território. Além disso também serão fundamentais as dis- cussões das categorias tempo/temporalidade feitas por Paul Ricoeur (2006, 2007 e 2012), Jo- hannes Fabian (2013) e Walter Benjamin (2012, 2013), que, de modos singulares, convidam a pensar o passado, o presente e o futuro como lugares políticos de criatividade e produção. Ou- tras categorias importantes, como cultura, identidade e tradição serão iluminadas desde o pen- samento de João Pacheco de Oliveira (1998, 2004, 2009 e 2016), Georges Balandier (1976), Homi Bhabha (2014), Alban Bensa (2016, 2006), Ulf Hannerz (1997), Edward Said (1990) e Jean Bazin (2008). Então, com o apoio desse referencial, bem como de documentos recolhidos durante a trajetória de pesquisa, é que será realizada a análise nomeada aqui de etnografia das narrativas, considerando que elas materializam uma certa perspectiva de tempo através de en- redos, informações e imagens que dão conta de eventos desqualificados, silenciados, apagados e esquecidos no violento processo de colonização, tornado aceitável na narrativa oficial do país. Importante ressaltar que essas histórias não são meras recordações ou fonte de entretenimento, pois estão articuladas a processos políticos de resistência e luta, sobretudo das relacionadas ao território. Destarte, a pesquisa busca compreender e explicar como os Pataxó da T.I. Comexa- tibá organizam narrativamente suas experiências no tempo (temporalidade) e, fazendo-o, cons- troem-se como povo indígena com direitos legítimos sobre um território herdado de seus ante- passados. Dito de outro modo, é preciso saber que soluções narrativas encontraram através dos tempos e no tempo para construírem a si mesmos na difícil empreitada das retomadas territoriais e étnicas, onde suas identidades são constantemente postas em xeque. Como resposta provisó- ria, será possível afirmar que contar é fundamental para as lutas em curso, mesmo que seja através de temporalidades descontínuas, que não se encaixem em nenhuma das perspectivas temporais consagradas.